De Mossoró para a 'bagunça' em Salvador: conheça a história da dupla que parou a capital baiana
Os gêmeos Diogo e Diego Leão chamaram a atenção dos soteropolitanos pelas fantasias irreverentes e discursos surreias
Gilvan Reis
gilvan.reis@redebahia.com.br
O que era para ser uma viagem séria de cunho político, virou piada nos principais meios de comunicação da Bahia. Dois roqueiros, vestidos como manda o figurino, chegam no principal corredor de Salvador, a Av. Paralela, param o carro em horário movimentado, travam a pista, descem para fazer flexões no asfalto em pleno calor baiano, se confundem em explicações e histórias sem pé nem cabeça, tripudiam das autoridades locais e trocam carícias incestuosas diante das câmaras. Pode até parecer encenação, mas a história dos gêmeos de Mossoró, Diego e Diogo Leão, é bem mais comovente do que parece.
Nascidos e criados no interior do Rio Grande do Norte (RN), à 300 km da capital Natal, os dois jovens, de 28 anos, sempre levaram uma vida tranquila. Estudaram no Colégio Dom Bosco e depois na Rede Geo de ensino. Filhos de pais comerciantes - Nilza Leão e Francisco Leão - os gêmeos sempre tiveram uma educação mais severa, quase conservadora, segundo amigos da família. Dessa formação, inclusive, teria vindo o gosto pela rebeldia do rock.
Juntos, ingressaram na Faculdade de Direito e cursaram somente os quatro primeiros semestres. É que nos anos iniciais da graduação o sonho de formar uma banda e de seguir carreira artística pareceu-lhes mais promissor do que a toga e os tribunais. Foi aí que, com o amigo Rafaum Costa, fundaram o grupo indie Leões de Minerva e começaram a se destacar na cena alternativa da cidade. Shows, participações em eventos, festivais e um intenso trabalho de dedicação à música.
Numa destas surpresas da vida, quando a empolgação já tomava conta dos garotos, a notícia de que Rafaum pretendia deixar o grupo, em outubro do ano passado, deu início a uma série de transtornos na vida dos gêmeos e dos demais parentes. Preocupados com as apresentações já agendadas e com a proximidade da turnê, eles não suportaram a carga e tiveram o primeiro surto.
"Eu me lembro que isso ocorreu uma semana antes do nosso filho completar um ano. Eles tinham começado a trabalhar na pastelaria da família e estavam levando uma vida mais normal. Na crise, ele [Diogo] dizia que tinha matado o nosso filho, falava coisas sem nexo mesmo, fora da realidade. Ele não tinha noção do que dizia", diz Iana Gongalves Fontes, 24 anos, ex-namorada de Diogo, com quem teve uma criança, Apolo Gongalves Leão de Moraes. Segundo ela, os dois chegaram a receber medicamentos, foram tratados em Fortaleza, no Ceará, onde ficaram 15 dias, mas acabaram saindo por vontade própria.
Nos meses subsequentes, eles se recusaram a tomar a medicação orientada e seguiram para Natal. Na capital, fizeram um curso sobre a profissionalização e empreendedorismo de bandas. Voltaram decepcionados com as aulas, acharam que era uma enganação e ficaram indignados com a situação da cultura no município. "Foi aí que tiveram a ideia de sair daqui para discutir o sistema cultural com a presidenta Dilma Rousseff. Todo mundo sabia que eles estavam indo para Brasília, não houve surpresa nisso. E só levaram a roupa do corpo", conta Iana.
Mesmo sem ter a confirmação ainda de que o carro utilizado, um Chevrolet Ágile, foi tomado com ou sem autorização do pai, a mãe de Apolo acredita que os seis mil reais encontrados com a dupla sejam mesmo da família. "Os pais deles não tem conta em banco, não tem cartão de crédito, guardam tudo no cofre de casa. Seria mais fácil o acesso para eles". Além da quantia, outro elemento que fez com que a polícia baiana concluísse que os jovens não estavam no estado normal foi a presença de uma quantidade considerável de maconha dentro do veículo.
Nos depoimentos, diziam que, no trajeto de Mossoró, viam placas estranhas com nomes deles. A mãe de Apolo, entretanto, afirma desconhecer o uso da maconha na rotina dos jovens. "Eles eram certos. Queriam trabalhar duramente para ver o sucesso da banda". Opinião semelhante foi compartilhada por um comerciante da cidade, próximo da família dos jovens. "Nunca fizeram nada de errado. São boas pessoas. Até imaginei que eles apreciassem a erva, mas que não usassem por conta do trabalho mesmo".
Surtos
Apesar disso, outra pessoa que conviveu com a dupla e que prefere se identificar, confirma que parte do surto veio pelo uso abusivo de drogas. "Em Mossoró tem muita gente rica e pouca coisa para fazer. Eles começaram a usar drogas muito pesadas como daime, muito pó (cocaína), ácido e fizeram muitas coisas erradas por lá. Roubaram os pais e inventavam que tinham sido contratados. Essas coisas", relata.
A questão financeira é uma das características mais presentes nos surtos. "Eles ficam preocupados com o dinheiro. Diogo é o que mais fala, sabe? Diego é mais observador, mais calado". Neste segundo dia de detenção, na Delegacia de Roubos e Furtos, eles caíram no choro e não demonstraram mais a mesma habilidade ou gracejo para falar sobre a legalização da'cannabis', discussão que eles, consumidores de maconha desde os 21 anos, alegam ter sido o mote da viagem.
"Quando liguei para o Diogo e ele me disse que estava passando pela Bahia não imaginei que fossem parar na Av. Paralela. Desde que eles viajaram quem sente mais a falta deles é o filho. Perguntou no dia que eles saíram e vive perguntando porque o Diogo e o Diego também sempre, todos os dias, vinham ver e brincar com Apolo.", afirma Iana. Segundo ela, Diogo, nestes um ano e seis meses, tem sido um pai exemplar: "Ele não é o tipo de homem que só dá a pensão e pronto. Ele participa de tudo. Isso tudo é um pesadelo".
A dupla aguarda em Salvador a chegada de um familiar que deverá ajudar na liberação. Os pais seguem em Mossoró esperando a resolução do caso. Depois que soube do ocorrido, a mãe, segundo depoimentos, tem tido febres e não está em condições de dar declarações.
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