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Chanel, Louis Vuitton e Dior que me desculpem, mas atualmente luxo mesmo é encontrar companhia de qualidade. A coisa toda se tornou tão superficial que muita gente passou a usar a seguinte regra: Se serve para mostrar e agrada aos olhos então, venha comigo.
E não falo aqui de beleza física somente, como também de todos os acessórios que as pessoas fazem uso quando o resto não sustenta, desde fotos turbinadas que abarrotam as redes sociais, até grifes, carros e viagens que são mais para preencher uma time line do que uma vida. Fica a pergunta: – E se os outros não souberem, vai ter graça?
Se ter um círculo de amizades de qualidade anda difícil, encontrar um amor disposto então tem sido raridade. Mas a gente que se cuide, pois, às vezes, o transtorno mora dentro de nós mesmos.
Outro dia li no Facebook a reclamação inveterada de alguém que se diz satisfeito com a solidão e que não acredita nas pessoas a ponto de entregar-se já que soube que o namorado da sicrana a traiu, que seu ex mentiu e por aí vai. Até o ponto de estar feliz em estar solteiro tudo lindo, ninguém vai me querer se eu não for uma boa companhia para mim mesmo e isso todo mundo sabe, mas agora generalizar? Santa ignorância!
Na verdade companhias de qualidade andam esbarrando com você por aí, a torta e a direita e encontrá-las nem é assim tão difícil, basta talvez, que você vire o foco do celular para fotografar outras coisas e não a si mesmo, basta que a gente tire um pouquinho os olhos do espelho, do relógio, da academia, da vitrine, do universo virtual, do saldo bancário, ou quem sabe, basta apenas que a gente rasgue o protocolo emocional que criamos onde só entram os melhores, as beldades e os bem sucedidos.
Então adotamos essa mania de dizer que estamos bem sozinhos, mas vivemos reclamando do amor que não aparece por que "anda difícil encontrar". Quem de fato está feliz sozinho não reclama, vai lá se enfia solitariamente em uma sessão de cinema, marca uma viagem mesmo sem companhia e vive até que a mágica aconteça, mas se não acontece, viaja mais um pouco, aprende mais um pouco e preenche as lacunas com coisas satisfatórias.
– Ah, mas anda difícil encontrar companhia de qualidade!
É que a extravagância superou faz tempo o convencional. Hoje não basta que seja amor, tem que ser de cinema, não basta que seja alguém que te ame, tem que ser um ícone fitness, não basta que seja interessante, tem que conhecer pelo menos cinco países diferentes.
Os filtros estão nos lugares errados, companhia de qualidade é gente decente, que te entrega um amor simples e manso que acontece sem alarde, é gente que se dedica e vê importância em cuidar do corpo, mas não abre mão de preparar um brigadeiro de panela e comer deitado no seu colo, é gente que mesmo tendo viajado pouco sonha em conhecer lugares diferentes com você.
Companhia de qualidade é gente mansa, gente que esbraveja e fala as verdades que você precisa ouvir de vez em quando, é gente que marca e vai, que diz que às cinco vai chegar e chega, que conversa com você assuntos banais sem julgamentos, mas que sempre tem um livro para indicar, uma palavra leve para dizer, um risada para dar mais uma vez antes de partir.
A vida com companhias de qualidade tem ficado tímida com tanta exposição, ela desapareceu até das fotos, pois é sorriso dado espontaneamente sem tempo de posar para retratos, é justamente essa simplicidade de andar de chinelos e meia em um dia frio que todo mundo tem vergonha de registrar.
Vida é grande, mas ao mesmo tempo pequena e mansa, não é a toa que começa do tamanho de um embrião. Vida é brisa no rosto, é o sol na manhã seguinte ao temporal, bem como as companhias que são um bálsamo, começam pequenas e surgem inesperadamente até se tornarem o nosso sol interno que insiste em brilhar depois que a tempestade causada por alguém que não valia a pena passou.
O post A arte de encontrar alguém apareceu primeiro em Curitiba Cult.
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