domingo, 27 de julho de 2014

‘Eu acredito em príncipe encantado’, diz Deborah Secco

'Eu acredito em príncipe encantado', diz Deborah Secco
Leo dias

Tudo na vida tem um preço. E ele é alto demais quando a opção é a verdade e a sinceridade. No meio artístico, então… É praticamente impossível de pagar. Mas Deborah Secco ainda insiste na busca por um grande amor, e essa procura vem através da verdade de seus sentimentos.

Na entrevista que concedeu à coluna, a intérprete de Inês em 'Boogie Oogie' pareceu absolutamente sincera. Se mostrou desapegada de bens materiais e, como em uma sessão de análise terapêutica, abriu seu coração sobre seus sentimentos. A atriz também fez uma profunda consideração sobre sua carreira. Com vocês, uma mulher linda, mas que ainda carrega os sonhos de menina.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Vamos falar sobre sua personagem de 'Boogie Oogie'. Ela é uma aeromoça muambeira, não é?
Não acho que ela seja muambeira. Nos anos 70, só quem tinha acesso para comprar e trazer as coisas importadas eram as aeromoças. Ela era aquela pessoa que podia tornar real o sonho das pessoas que não tinham condições de viajar e comprar.

É uma comédia?
Eu começo amiga da Alessandra Negrini e vivo muito a história dela. Depois, parto para uma história de amor misteriosa e secreta. No segundo mês da novela é que começa esse romance.

Em paralelo, você está com o filme 'Boa Sorte'. Como avalia sua personagem portadora do HIV?
O filme é uma história de amor, por isso que eu fiz tanta questão de estar nele. Fui atrás da (diretora) Carolina Jabor para fazer pelo menos um teste.

Você fez teste?
Fiz. Queria muito viver essa personagem, que tem essa história de amor. Além disso, tem a personagem densa, que tem a carga dramática de ser portadora do vírus HIV num período que era tido como fatal. Me trouxe uma possibilidade de pesquisa e uma necessidade de contar essa história de amor. Ele se apaixona e tem a primeira experiência sexual com um portador de HIV. Acredito que nada acontece por acaso. O Brasil ainda é um país com grande número de jovens contaminados. É uma doença com que as pessoas pararam de se preocupar quando perceberam que ela começou a ser administrada. Ela ainda mata e muitas pessoas não sabem que são contaminadas. Outra coisa que me emociona é falar do uso de antidepressivos que o menino faz. Hoje em dia é comum.

Você tem urgência pela vida?
Cara, eu acho que sou a pessoa que mais tem urgência pela vida. Eu quero passar por essa vida sem me arrepender.

Você se arrepende de algumas coisas que fez?
Não. Eu lembro que, na época do filme, ouvi de uma menina que tinha um mês de vida que o presente é só o que a gente tem. O nosso agora tem que ser o mais feliz. Tem coisas que te fazem mal, mas valem a pena. E a gente tem que saber equilibrar isso e equalizar. É fato que a gente pode acabar e não dá tempo de voltar. Não vou deixar minha vida passar.

Você disse que 'queria muito viver essa história de amor'. Me explica? Era vontade de viver na vida real ou no cinema?
Não que eu queria, mas como eu quero mesmo viver essa história. É meu sonho de vida e eu não vou desistir.

Mas você nunca viveu uma história de amor intensa?
Vivi muitas, mas eu acredito em príncipe encantado e no 'felizes para sempre'.

Você acredita que vai encontrar um cara pra ficar para sempre?
Eu acredito, como nas histórias românticas dos cinemas. Acredito, cara (risos). É cafona, é bobo, é infantil, mas é real. Essa sou eu.

Já lutou contra isso?
Já, mas eu prefiro a verdade, por mais que a vida nos leve para o sentido contrário. Desde criança gosto de filmes sobre amor, sonho com o príncipe encantado num cavalo branco. Nunca sonhei ser sozinha.

Me identifico com muitas coisas que você disse. Não sei com você, mas, durante algum tempo, eu considerava estar solteiro como um fracasso.
Eu também. A gente acaba ficando na função de cumprir com o que a sociedade espera. Os anos vão passando e você tem que casar, ter filhos… Depois do filme, eu me ligo muito no que eu tenho. Eu tenho que ser feliz, não importa como e nem os padrões. Buscar o príncipe encantado me faz feliz. A gente é gerado de um amor, viemos de outro ser humano, como não acreditar no amor?

Qual foi o seu grande amor da vida?
Não tive. Ainda não vivi o 'felizes para sempre'.

Que imagem você acha que as pessoas têm de você?
Acho que isso é muito abrangente. Não acredito que as pessoas tenham uma imagem só. Em geral, acho que eles imaginam uma supermulher, forte, independente… Acho que a coisa do sexy tem muito mais a ver com os personagens.

Você não é sexy?
Não, cara. Não me acho sexy, não. Muito pelo contrário! Já fui traída, já fui deixada… (risos). Se eu fosse tudo isso que as pessoas acham, eu estava superbem (risos). Teria uma fila de príncipes encantados, mas eu sou só uma menina buscando ser feliz. Não me vejo uma mulher, me vejo uma menina.

Você acha que a exposição dos seus relacionamentos atrapalhou sua vida profissional?
Acho que não. Atrapalhou minha imagem pública, que não é minha vida profissional. Depois de alguns anos de análise, eu percebi que me preocupo, sim, com o que as pessoas falam. Antes eu achava que não me importava. Me faz mal, então preferi me resguardar. Não posso obrigar as pessoas a pensarem diferente. Então, eu mudei. Tive rebeldia e queria provar que ninguém pode julgar e, hoje, não tenho essa ambição.

Voltando ao filme… Queria falar do seu corpo para o personagem. Você sempre disse que ele é um instrumento, mas durante algum tempo você não teve controle sobre ele…
Quando desfilei no Carnaval, por exemplo, eu estava com um problema de saúde na tireoide. Estava doente. E ainda não tinha esse controle por conta dos personagens. Eu era uma pessoa magra por natureza. Não tinha uma grande preocupação, porque o corpo nunca foi o foco. Quando os personagens começaram a exigir de mim, eu comecei a buscar como funcionaria, da melhor forma. E aí, eu percebi que tudo é possível.

Por que ficou tanto tempo longe da TV? Você pediu isso para a Globo?
Eu não fiquei tanto tempo assim. O seriado 'Loucos por Elas' acabou não tem nem um ano. Quando optei pela série, queria provar outra forma de fazer TV. O filme, fiz em paralelo com a série. Tanto que eu ia escondendo a magreza colocando enchimento na roupa. Nunca trabalhei só pelo dinheiro e, sim, porque é o meu prazer.

É mesmo? Mas você gosta de dinheiro, não é?
Eu não sei lidar muito bem com isso, não. Minha família, no caso a minha mãe, é quem cuida. Eu não sei nem quanto eu ganho. Tive oportunidade de casar com homens ricos, mas não é essa a minha felicidade. Prefiro ter o meu padrão legal, que não é de rica: não tenho barco, não tenho helicóptero, não tenho avião particular… Tenho que ficar lá esperando a ponte aérea, mas eu faço o que eu amo e isso me basta.

Esse é o típico discurso de uma sonhadora romântica!
Eu sempre trabalhei com o que eu amo e sempre me preocupei com o bem-estar da minha família. Sei que para eles o que importa é que eu seja feliz.

Qual o personagem que você ainda quer fazer?
Nossa, tem muitos. Todas as mulheres interessantes eu quero fazer, que pode ser a dona de casa que cuida dos filhos, viver histórias de amor, comédias românticas, quero qualquer coisa que me motive a ver a vida com olhos diferentes dos meus.

Quando você era um forte símbolo sexual, houve medo de as pessoas só enxergarem isso e não a boa atriz que você é?
Tive um pouco de medo , sim. Depois do desfile pela Grande Rio (2004), que eu engordei, houve aquela vontade de ficar feia para as pessoas verem como eu verdadeiramente sou. Inconscientemente. Mas acho que é real. Hoje, avaliando, acho que foi muito disso.

Você tem amizade com algum ex-namorado?
Amizade não, porque o contato diário é muito difícil depois que você se separa. Mas não guardo mágoa de nenhum deles e, se encontrasse com qualquer um, iria abraçar, querer saber da vida. Guardo eles dentro de mim com muito respeito sobre tudo o que foi vivido.

Você faz terapia quantas vezes por semana?
Isso depende de como está a vida. Quando não estou trabalhando, faço duas ou três vezes por semana. Eu gosto muito, gosto de falar e pensar na vida. Analiso personagem e a gente, como ator, muda quando dá morada a essas vidas de fora.

Há quantos anos você faz terapia?
Faço desde os 12 anos. Estou com 34.

Por que você não viveu a Joelma e a irmã Dulce no cinema?
A Joelma foi porque o filme não saiu, houve ausência de patrocínio, até onde eu sei. Adoraria fazer. É ótimo trazer personagens reais para o cinema, com uma história como a dela. Acho que isso falta no brasileiro, julgamos cafona e enaltecemos o que está fora. Não fiz irmã Dulce porque já tinha me comprometido com um projeto antes, que acabou saindo no mesmo período. Dei minha palavra, não poderia voltar atrás.

O que falta na sua vida para você ser realizada?
Não posso falar que falta nada. Eu tenho tanta coisa e sou tão realizada, mas a gente tem que arrumar motivos para continuar vivo, que é querer mais. Então, eu quero ajudar mais a minha família, construir a minha própria família, quero poder ser feliz com pouco, com o que eu sou e o que tenho. Quero desejar menos e aproveitar mais.



Original Article: http://blogs.odia.ig.com.br/leodias/2014/07/26/eu-acredito-em-principe-encantado-diz-deborah-secco/

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