sábado, 19 de abril de 2014

Relacionamento entre avós e netos são importantes para a criança

Relacionamento entre avós e netos são importantes para a criança
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A casa dos avós é sempre uma diversão, o lugar onde as crianças podem fazer de tudo. Eles estão a postos para ajudar nas mais variadas missões da vida das crianças. Levar para a escola, dar colo, brincar no chão, acompanhar ao médico. Essas atividades passam a ser cada vez mais auxiliadas pelos avós. Preocupados, sempre querem ajudar e muitas vezes dar palpites na vida da criançada.

O pediatra Fábio Ancona Lopez, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), baseado em suas experiências como médico e avô lançou em março deste ano o livro "Avós e Netos - uma forma especial de amar", onde compara a educação recebida hoje à de algumas décadas e a mudança na participação dos avós na criação dos netos.

Para Lopez, devem haver limites claros. "Pais e avós devem discutir a criação das crianças e em comum acordo decidir os limites. Quem tem a obrigação de criar são os pais, mas os avós devem trabalhar paralelamente e ter a mesma orientação dos pais para não confundir a criança".

Avô coruja, Sizenando Rocha Campos Júnior, mais conhecido como professor Rocha, tem para a neta de 11 meses o tempo que não teve para as filhas. "Quando eu era mais novo trabalhava durante o dia e dava aulas à noite e por isso fui pouco presente na infância das minhas duas filhas. Hoje, tenho mais tempo e consigo estar sempre perto da Heloísa, que a gente apelidou de Lolo".

Com atividades diferentes, os avós se tornaram peças importantes no crescimento de muitas crianças. Segundo uma pesquisa da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, as crianças crescem mais felizes e ajustadas quando os avós têm um papel importante em sua educação, podendo até ajudá-las a superar traumas.

A compensação do tempo perdido também é sentida pela aposentada Josefina Bom Despacho da Silva Paim. "Ser avó, pelo menos para mim, é bastante diferente de ser mãe. Com os filhos eu estava na fase em que trabalhava fora e tinha coisas para organizar, não tendo tempo para brincar. Já com os netos eu tenho oportunidade de brincar, sentar no chão e participar mais".

Para cuidar dos netos vale tudo, inclusive permitir o que os pais proíbem. "É importante não confundir carinho com guloseimas. Os avós não podem desautorizar os pais, pois isso gera confusão na cabeça da criança", afirma o pediatra. É comum encontrar netos que ficam acima do peso por causa das visitas aos avós. Eles não resistem aos apelos das crianças e acabam cedendo e dando o que não é permitido pelos pais.

Essa atitude não faz parte da relação de Josefina com os netos. "Meu trabalho é mais de assessoria, quando precisa levar pra uma consulta de rotina ou à escola eu faço. Agora quando o problema é grave como uma doença, por exemplo, a responsabilidade é dos pais, mas eu também acompanho e fico preocupada".

Presentes também estão na lista dos mimos do avô Sizenando. "Minha neta tem carrinho, berço e brinquedos lá em casa. Não posso ver uma coisa bonitinha que já quero comprar para ela, mas tento me controlar para que ela não se acostume e cresça mimada".

Os avós, diferente daqueles da década de 80, são mais presentes na vida dos netos. Não são mais figuras somente do final de semana. Quando não estão perto, o telefone é o principal aliado, matando a saudade e diminuindo as preocupações. "Quando eles não vem aqui em casa eu ligo pra saber o motivo. Fica tudo um silêncio que é até estranho", lembra Josefina.

Avó mais que presente, ela cuida dos netos no período em que os pais trabalham e a brincadeira faz parte do cotidiano. "Quando meu neto mais velho nasceu, minha filha era muito nova e eles moraram na minha casa, já a mais nova, Ana Beatriz, sempre ficou comigo quando a mãe ia trabalhar ou estava estudando para o concurso público. Eu brinco, assisto DVD, danço com eles... Sempre tem um jogo que a gente inventa, até porque eles pedem".

Brincar também faz parte da rotina do vovô Rocha. "Rolo no chão, brinco, mas ajudo a trocar fraldas e coloco pra dormir. Ela gosta de ver vídeos infantis e eu assisto junto, mas não a incentivamos a ver muita televisão, porque não faz bem".

A relação mais próxima é benéfica não só para as crianças. "Para os avós, as crianças são um estímulo muito bom, tanto afetivo quanto físico. Alguns idosos estão em uma fase difícil e o vínculo afetivo os traz de volta à vida, explica Lopez.

O saldo da relação pais-filhos-avós é positiva para todos os participantes. Para as crianças é uma maneira de se sentir segura e amada, além de aumentar a auto-estima. Os pais ganham tranquilidade por deixarem os filhos com pessoas de confiança e economizam com babás e creches. A alegria e o sentimento de utilidade são importantes para envelhecer melhor, o que torna o carinho e a atenção saldo positivo para os avós."Antes eu chegava em casa cansado e queria dormir. Hoje,com a Heloísa, eu posso estar cansado, mas sempre arrumo um jeito de brincar com ela", afirma o professor.

Mas nem sempre a relação com os netos é um mar de rosas. O pediatra Fábio Ancona afirma que alguns hábitos precisam mudar. "Muitas avós dizem: fiz tudo certo com meu filho e não tem porque mudar. A resistência pode ser muito grande, mas eles têm que entender e aceitar que alguns conceitos mudaram".

Entre os animais essa relação não existe, pois tudo o que eles precisam aprender está em seu código genético. Até o século XIX, existiam poucos avós, pois somente 3% da população ultrapassava os 60 anos. Paulo Sales de Oliveira defende em seu estudo que avós e netos estão sempre em um processo co-educativo, no qual as gerações se influenciam e educam ao mesmo tempo.

Diferentes dos avós de algumas décadas atrás, hoje quase não se vê avós de cabelo branco fazendo tricô e avôs de bengala e lendo jornal. Eles se divertem, cuidam dos netos, trabalham fora e vão à baladas. A relação entre netos e avós é quase de igual para igual, como um companheiro mais velho, eles compartilham histórias e experiências que outros parentes nem sempre estão dispostos a ouvir.

"Minha neta Bia, quando chegava na minha casa sempre tinha uma história para contar. Ela falava coisas que eu não conseguia entender, mas eu prestava atenção pois ela falava séria e gesticulando como se fosse importante. Até hoje ela tem esse costume, quando vem almoçar ou ficar durante a tarde comigo, sempre me conta o que aconteceu no seu dia", lembra a avó.

O amor que une gerações tão diferentes, também foi exaltado pela escritora e jornalista Rachel de Queiroz. "Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis".



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