quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Até a última folha: cozinhar sem desperdiçar

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A paraibana Regina Tchelly está em Curitiba para ensinar como cozinhar pratos vegetarianos usando totalmente os ingredientes

Publicado em 04/09/2013 às 12Hrs
Regina Tchelly está em Curitiba até o dia 6 de setembro para ministrar oficinas de aproveitamento total dos alimentos

Quando Carlos Petrini, fundador do movimento internacional Slow Food, conheceu a paraibana Regina Tchelly em uma oficina do Rio +20, no ano passado, não poupou elogios à cozinheira. "É a melhor chef do Brasil", disse na época e repetiu aos quatro ventos.

A fama de Regina foi longe e o projeto Favela Orgânica está ganhando força desde então. Regina estará em Curitiba até sexta-feira (6) ministrando oficinas de culinária em diversos locais de Curitiba (veja serviço ao fim da matéria).

No último ano, ela viajou por todo o Brasil e parte do mundo (especialmente Europa) para divulgar uma cozinha que se preocupa em utilizar totalmente os ingredientes. Regina é autodidata e nunca quis ser uma "chef com glamour", como ela diz. O que ela sempre quis – e consegue – é tocar as pessoas pela praticidade de seus preparos e da descontração de suas aulas. "Sempre tive vontade de fazer algo pela minha comunidade, pelo Brasil, pelo meio ambiente, onde quer que eu esteja", define.

O Favela Orgânica é mais que uma empresa tocada por Regina: nasceu de uma preocupação com o desperdício de alimentos e, desde o começo do projeto, ela pensa na cadeia inteira. Desde o pequeno produtor até o consumo consciente pelo cliente final. Também se dedica a ensinar às pessoas como fazer pratos saudáveis com o que têm disponível em casa. "Consegui da forma mais simples, que é cozinhar. Até quem não gosta de cozinhar se interessa", conta.

Desinibida e confiante, Regina conversou com a Gazeta do Povo sobre sua trajetória:

Você fez algum curso de cozinha ou decidiu ser autodidata?Fiz um curso de cozinha pelo Senac para trabalhar em restaurante, foi quando eu vi que não era aquilo. Eu quis ser uma cozinheira diferente. Todo mundo quer estudar francês e eu quis estudar o aproveitamento total dos alimentos.O Favela Orgânica oferece vários serviços, desde horta, compostagem até essa oficina de aproveitamento total dos alimentos. Foi assim desde o início?Eu não te falei que eu queria ser diferente? Então. Para mim não era interessante aprender a fazer só um salpicão de casca de melancia ou brigadeiro de casca de banana se, primeiro, você não se conscientizar com o que você leva pra sua casa. Tem oficina de consumo consciente, de compostagem caseira, de pequenas hortas e pequenos espaços e da gastronomia alternativa. A ideia é devolver para a Terra o que a Terra nos dá. Para mim, aproveitamento total existe há muitos anos. Isso não é inovador. Antigamente a gente fazia tudo isso: plantar, colher, etc. Todos esses serviços surgiram de uma vez, se é para mudar, vamos mudar direito.De onde vem a matéria-prima que você usa no Rio de Janeiro?Tenho parceiros nas feiras livres do Rio de Janeiro. Quando tenho coffee breaks ou alguma coisa assim, ligo para eles e peço para separarem as cascas de banana ou abacaxi, por exemplo, sem ter contato com o lixo ou alguma contaminação. Nosso bufê não é totalmente orgânico, mas a ideia é que as pessoas consigam aproveitar melhor os alimentos [dando um fim adequado]. Não adianta eu dar a solução só com o trabalho que eu faço, se ao meu redor o problema é maior, como o consumo desnecessário, o desperdício absurdo de alimentos…A gente tem que focar na reeducação das pessoas. Outros ingredientes, como a melancia, compro e uso a polpa para um suco com hortelã, por exemplo, e a casca para um risoto ou para um salpicão, porque a melancia se estraga muito rápido.Os alimentos orgânicos geralmente saem mais caros que os convencionais. Usar ele integralmente "abate" esse custo?Sem dúvidas. Mas quem é a maior parte da população, que precisa consumir esses alimentos integralmente? É quem é de baixa renda. Se eu incentivá-los a consumir melhor os alimentos e a plantar, eles vão ver que quando arrancarem sua cebolinha e consumirem é muito melhor que aquele alimento que não é orgânico. Primeiro precisamos de uma grande conscientização para chegar nesse patamar. As pessoas falam muito de orgânico, mas não há uma preocupação para que o orgânico chegue nessa população. Se a gente pesquisar bem, vê que tem muitos lugares com preço acessível, mas não é muito divulgado, só é divulgado quem tem nome. E o pequeno produtor? Ele também precisa [de divulgação e apoio].Todos os pratos que você vai ensinar são vegetarianos. Você se preocupa em incentivar uma redução no consumo de carne?Eu me coloco no lugar daquelas pessoas que não têm condições de comprar carne sempre. Se eu conseguir desenvolver receitas simples e baratas, econômicas e saudáveis, as pessoas vão se saciar sem precisar de um bife. Foi aí que comecei a desenvolver. E também porque eu acho a comida vegetariana muito ruim e quis dar uma incrementada legal. Não quero desenvolver receitas com carne. A minha ideia é que a pessoa consiga comer com o que ela tem em casa, consiga dar um jeito na vida dela. Não precisa ir ao açougue se ela tem uma abóbora, um tomate e uma cebola. Então ela tem comida em casa. Eu já diminuí muito o consumo de carne, mas às vezes sinto que meu corpo precisa.* * * * * * *

Serviço

Oficina Aproveitamento Total de Alimentos com Regina Tchelly, R$ 60 por pessoa (receitas de um suco, um prato salgado e uma sobremesa). Nos dias 4, 5 e 6 de setembro em três endereços: Oba Gastronomia (Rua Rouxinol, 492 – Almirante Tamandaré – (41) 9103-6752), Espaço de Bem com a Vida (Rua Parnaíba, 345, São Francisco – (41) 3015-4836)e Bicicletaria Cultural (Rua Presidente Faria, 226, Centro – (41) 3153-0022) às 10h, 14h ou 19h.

Jantar-oficina Aproveitamento Total de Alimentos com Regina Tchelly no Restaurante Limoeiro (Av. Marechal Humberto Alencar Castelo Branco 669, Tarumã – (41) 3014-8014). R$ 70 por pessoa (receitas de três pratos quentes, um suco e uma sobremesa). Dia 5, às 20h.

Inscrições pelo e-mail favelaorganicacwb@gmail.com ou pelo telefone (41) 8705-2597.

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Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
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