domingo, 29 de dezembro de 2013

Um ano de paradoxos

Um ano de paradoxos
Fábio Campana

De Ruy Fabiano, jornalista

O ano de 2013 será lembrado por seus paradoxos: levou às ruas de todo o país, em junho, megamanifestações contra o governo e sua presidente e findou por escolhê-la, nas pesquisas, como favorita à próxima sucessão presidencial.

Não é fácil decodificar essa equação. O que quer afinal o povo, que simultaneamente vaia e escolhe a mesma personagem para governá-lo? A menos que as pesquisas estejam enganadas – e é improvável que todas estejam -, estamos diante de um enigma.

Busquemos decifrá-lo recapitulando as manifestações. Começaram pequenas e violentas, articuladas por ativistas do Psol, PSTU e Passe Livre. A polícia demorou a reagir, o que encorajou os manifestantes a atos mais violentos, como queima de ônibus, depredações de lojas e agências bancárias e agressões aos policiais.


Nas redes sociais, no entanto, mostravam-se apenas as reações da polícia, como se nada as tivesse motivado. O motivo das manifestações era na verdade um pretexto: aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus em São Paulo.

Os ativistas, como se constatava por seus trajes e smartphones, não eram exatamente usuários de ônibus.

A turbulência estendeu-se imediatamente pelo Rio de Janeiro e outras capitais, coordenada pelos mesmos grupos. A certa altura, a população, basicamente a classe média, entrou em cena, mas não para endossar apenas a causa original – e sim o conjunto dos péssimos serviços públicos oferecidos pelo Estado.

Cada manifestante não ativista portava o seu próprio cartaz, feito em casa, reclamando da corrupção, da péssima educação, da segurança pública, da saúde, do mau uso enfim dos tributos. Com isso, jogava o governo federal – e, por conseguinte, o PT – na fogueira dos protestos. Centrais sindicais e partidos, ao tentarem capitalizar a indignação, viram-se banidos pelos manifestantes e decidiram sair de cena.

Os ativistas do Passe Livre passaram a condenar os manifestantes fora de seu controle como reedição das marchadeiras de 1964. Mas o recado estava dado: não seria mais possível que as coisas continuassem como antes. O Brasil-Maravilha dos marqueteiros do PT não existia e o povo estava ciente disso.

Ato contínuo, a popularidade da presidente Dilma chegou a seu nível mais baixo. Quem faturou a insatisfação, no primeiro momento, foi a ex-senadora Marina Silva, que estava fora do jogo político, sem conseguir registrar seu partido, o Rede de Sustentabilidade. Talvez por isso mesmo, por ser percebida como uma outside (o que de fato não é), foi circunstancialmente brindada com a confiança popular.

Os ativistas, no entanto, não saíram completamente de cena: fizeram-se representar por uma violenta tropa de choque, que pontuava todas as manifestações e tentavam transformá-las em batalhas campais contra a polícia. Os Black Blocks acabaram por reinar solitários, expulsando o povo da rua.

A oposição – e talvez aí esteja o xis do problema – não soube nem interpretar, nem capitalizar os acontecimentos. O governo improvisou propostas, algumas estapafúrdias, como a convocação de uma Constituinte para fazer a reforma política, mas, ao menos, não ficou indiferente. A oposição, no seu conjunto, ficou, à exceção de uma ou outra voz solitária.

Resultado: ficou onde estava, no limbo da opinião pública. O povo condenou o governo, mas não lhe viu alternativa. Junte-se a isso o fato de que tanto Marina Silva como Eduardo Campos, que acabaram se unindo no PSB para enfrentar Dilma, têm origem no PT, o partido da presidente. São, como se diz, mais do mesmo.

E o PSDB continua anódino, incolor e insensível. Seu provável candidato, senador Aécio Neves, rasga elogios a Lula e a Dilma, como se fossem seus correligionários. Não tem sotaque oposicionista.

E a presidente, ao condenar a baderna dos Black Blocks, tornou-se a única voz a exibir algum cacoete de ordem. Dilma é favorita por ausência absoluta de adversários assim reconhecidos. Não poderia, pois, concorrer sozinha e ficar em segundo lugar.

As pesquisas mostram que o favorito, até aqui, é o candidato voto nulo: nada menos que 60% nas pesquisas. Enquanto não surgir um oponente, de verdade, a minoria triunfará.

Ruy Fabiano é jornalista.



Original Article: http://feedproxy.google.com/~r/FabioCampana/~3/6qeEgQrHJ0E/

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